Monday, October 10, 2005
Autárquicas: the day after yesterday
E, agora que a TVCabo já resolveu o meu pequeno problema de acesso à Internet, aqui vai, muito embora um pouco a desoras, a minha humilde análise dos resultados da jornada eleitoral do passado domingo. Antes de mais, devo fazer minhas as palavras de Sócrates e Marques Mendes: muito embora, e sem qualquer margem para dúvidas, estes resultados tenham uma leitura a nível nacional, a legitimidade - e, mais importante, a estabilidade - do governo aconchegado na maioria parlamentar que o Partido Socialista conquistou em Fevereiro último, não foi posta em causa com esta eleição - até porque, até ver, a Presidência da República continua ocupada por um camarada de partido do nosso estimado Primeiro-ministro. E, pelo que parece, é mesmo até ver.
Antes de mais, arrume-se a questão dos candidatos-bandidos, conforme o discurso demagógico de Louçã: como não podia deixar de ser, todos foram eleitos. Desde a extrema esquerda à direita moderada, que são as forças politicas que são representadas no espectro politico nacional, o populismo rendeu votos, como não poderia deixar de ser. Valentim Loureiro e Fátima Felgueiras foram eleitos não por serem caciques, o que é óbvio mesmo para o observador mais distraído, mas por serem contra o sistema. Isaltino Morais, assumindo uma posição de mauito maior low profile, e não adoptando uma posição de não-retorno, recusando-se a queimar todas as pontes, teve dificuldades acrescidas na conquista de Oeiras, embora esta possa ser parcialmente explicada por uma maior politização - leia-se partidarização - do voto. Relativamente a Ferreira Torres, este apresenta-se como um outsider e foi devidamente esmagado, como insecto incómodo que é, assim que se atreveu a colocar as antenas fora da sua toca, com amplo auxílio dos media e dos anti-corpos criados pela sua gestão do munícipio de Marco. Já agora, a candidata-bandida do próprio Bloco, gozou, como não podia deixar de ser, da complacência geral dos media, apesar de Louçã se ver relativamente atrapalhado, quando questionado pelas televisões. Enfim, coisas que acontecem a quem gosta tanto de cuspir para o ar.
E agora, que já se despacharam as questões, que muito embora mediáticas, são na verdade menores, vamos ao sumo dos votos, partido a partido.
Partido Social Democrata
Marques Mendes, muito embora sem alargar significativamente os resultados do seu partido relativamente às eleições de 2001 pode, sem qualquer margem para dúvida, cantar vitória. Apesar de possuir um diminuto carisma pessoal, compensou essa falha com um trabalho de casa cuidadoso, que rendeu resultados: esvaziou e submeteu a oposição à direita, e esmagou a oposição de esquerda democrática, ao mesmo tempo que controlava os estragos provocados pelas candidaturas vitoriosas de Isaltino Morais e Valentim Loureiro. A jornada eleitoral foi sem dúvida uma vitória significativa para o PSD, embora sem a dimensão que fez hoje os títulos dos media. Tem no entanto que ser reconhecida a capacidade de damage control do banho eleitoral que o PSD levou nas eleições de Fevereiro.
Partido Socialista
É o segundo maior derrotado nestas eleições: perdeu à esquerda e à direita. Se, de algum modo, Sócrates pode ser responsabilizado pelas sangrias à esquerda, devido às politicas indispensáveis - embora muito insuficientes - adoptadas pelo seu governo, as suas percas à direita devem ser exclusivamente assacadas a Jorge Coelho. Candidatos pindéricos, com a honrosa excepção do Porto, onde o PS ainda tem que perceber que o apoio de Pinto da Costa é um beijo de Judas; arrogância e desorganização fizeram o trabalho do PSD muito mais fácil. Notas positivas para Assis, no Porto, e Apolinário, em Faro. Notas muito negativas para Carrilho, que, como adversário do PS, espero que avançe em futuras lutas eleitorais, e para João Soares e para o próprio Jorge Coelho, que perderam Sintra contra uma nulidade como Seara. Quanto ao inqualificável apelo de Mário Soares ao voto no seu rebento, apenas pode ser explicado pela sua senilidade - ou pior, por se considerar acima da lei. Qualquer das explicações não lhe augura nada de bom para as presidenciais.
Coligação Democrática UnitáriaPartido Comunista Português
É um dos maiores vencedores nestas eleições. Tal como o PSD, vence à direita - recuperou quase toda a margem sul do Tejo ao PS - e à esquerda - reduzindo o Bloco de Esquerda à sua real insignificância. Jerónimo de Sousa soube, mais uma vez, reunir as esgotadas massas, tocar a rebate, e aglutinar o grosso do voto de protesto contra a maioria socialista à esquerda. Cunhal, mesmo morto, ainda vale mais votos que Carvalhas, e a última coisa que os apoiantes do Partido Comunista querem é mudanças. Até porque, lucidamente, Jerónimo de Sousa percebeu que modernizar o movimento comunista português seria entregas as elites comunistas à esquerda moderada do PS, e as bases comunistas à esquerda radical do BE. Para isso, mais vale fortificar as posições, aproveitar os inevitáveis descontentamentos, e esperar que, por um qualquer acaso da politica internacional, melhores tempos venham. Um aplauso para a visão realista e pragmática de Jerónimo de Sousa: muito embora a minha preferência ande muito mais para a direita.
Bloco de Esquerda
Na minha opinião, o derrotado da noite. Louçã, claro, conseguiu eleger com facilidade a dinossaurozita (ainda só vai no terceiro mandato) que, sem saber como, herdou. No entanto, essa foi uma vitória - a par com a irrelevante eleição de Sá Fernandes em Lisboa - num mar de revezes. Fora de Lisboa, o Bloco de Esquerda não é nada: o que, espero, Louçã vai descobrir definitivamente na sua ridícula candidadtura presidencial. Só mais um recado: como toda a gente lúcida sabe, a 'Energia Alternativa' não só não serve para nada, como é muito mais dispendiosa que a energia convencional.
Partido Popular
Já nem há mais a dizer. O PP desapareceu do mapa autárquico, reduzido à condição de um qualquer BE - para menor. O Partido Popular terá que ficar à espera de um novo - ou antigo - Paulo Portas, que lhe devolva um novo alento, ou resignar-se a desaparecer, o que seria pena, pois empobreceria ainda mais democracia portuguesa.
Antes de mais, arrume-se a questão dos candidatos-bandidos, conforme o discurso demagógico de Louçã: como não podia deixar de ser, todos foram eleitos. Desde a extrema esquerda à direita moderada, que são as forças politicas que são representadas no espectro politico nacional, o populismo rendeu votos, como não poderia deixar de ser. Valentim Loureiro e Fátima Felgueiras foram eleitos não por serem caciques, o que é óbvio mesmo para o observador mais distraído, mas por serem contra o sistema. Isaltino Morais, assumindo uma posição de mauito maior low profile, e não adoptando uma posição de não-retorno, recusando-se a queimar todas as pontes, teve dificuldades acrescidas na conquista de Oeiras, embora esta possa ser parcialmente explicada por uma maior politização - leia-se partidarização - do voto. Relativamente a Ferreira Torres, este apresenta-se como um outsider e foi devidamente esmagado, como insecto incómodo que é, assim que se atreveu a colocar as antenas fora da sua toca, com amplo auxílio dos media e dos anti-corpos criados pela sua gestão do munícipio de Marco. Já agora, a candidata-bandida do próprio Bloco, gozou, como não podia deixar de ser, da complacência geral dos media, apesar de Louçã se ver relativamente atrapalhado, quando questionado pelas televisões. Enfim, coisas que acontecem a quem gosta tanto de cuspir para o ar.
E agora, que já se despacharam as questões, que muito embora mediáticas, são na verdade menores, vamos ao sumo dos votos, partido a partido.
Partido Social Democrata
Marques Mendes, muito embora sem alargar significativamente os resultados do seu partido relativamente às eleições de 2001 pode, sem qualquer margem para dúvida, cantar vitória. Apesar de possuir um diminuto carisma pessoal, compensou essa falha com um trabalho de casa cuidadoso, que rendeu resultados: esvaziou e submeteu a oposição à direita, e esmagou a oposição de esquerda democrática, ao mesmo tempo que controlava os estragos provocados pelas candidaturas vitoriosas de Isaltino Morais e Valentim Loureiro. A jornada eleitoral foi sem dúvida uma vitória significativa para o PSD, embora sem a dimensão que fez hoje os títulos dos media. Tem no entanto que ser reconhecida a capacidade de damage control do banho eleitoral que o PSD levou nas eleições de Fevereiro.
Partido Socialista
É o segundo maior derrotado nestas eleições: perdeu à esquerda e à direita. Se, de algum modo, Sócrates pode ser responsabilizado pelas sangrias à esquerda, devido às politicas indispensáveis - embora muito insuficientes - adoptadas pelo seu governo, as suas percas à direita devem ser exclusivamente assacadas a Jorge Coelho. Candidatos pindéricos, com a honrosa excepção do Porto, onde o PS ainda tem que perceber que o apoio de Pinto da Costa é um beijo de Judas; arrogância e desorganização fizeram o trabalho do PSD muito mais fácil. Notas positivas para Assis, no Porto, e Apolinário, em Faro. Notas muito negativas para Carrilho, que, como adversário do PS, espero que avançe em futuras lutas eleitorais, e para João Soares e para o próprio Jorge Coelho, que perderam Sintra contra uma nulidade como Seara. Quanto ao inqualificável apelo de Mário Soares ao voto no seu rebento, apenas pode ser explicado pela sua senilidade - ou pior, por se considerar acima da lei. Qualquer das explicações não lhe augura nada de bom para as presidenciais.
É um dos maiores vencedores nestas eleições. Tal como o PSD, vence à direita - recuperou quase toda a margem sul do Tejo ao PS - e à esquerda - reduzindo o Bloco de Esquerda à sua real insignificância. Jerónimo de Sousa soube, mais uma vez, reunir as esgotadas massas, tocar a rebate, e aglutinar o grosso do voto de protesto contra a maioria socialista à esquerda. Cunhal, mesmo morto, ainda vale mais votos que Carvalhas, e a última coisa que os apoiantes do Partido Comunista querem é mudanças. Até porque, lucidamente, Jerónimo de Sousa percebeu que modernizar o movimento comunista português seria entregas as elites comunistas à esquerda moderada do PS, e as bases comunistas à esquerda radical do BE. Para isso, mais vale fortificar as posições, aproveitar os inevitáveis descontentamentos, e esperar que, por um qualquer acaso da politica internacional, melhores tempos venham. Um aplauso para a visão realista e pragmática de Jerónimo de Sousa: muito embora a minha preferência ande muito mais para a direita.
Bloco de Esquerda
Na minha opinião, o derrotado da noite. Louçã, claro, conseguiu eleger com facilidade a dinossaurozita (ainda só vai no terceiro mandato) que, sem saber como, herdou. No entanto, essa foi uma vitória - a par com a irrelevante eleição de Sá Fernandes em Lisboa - num mar de revezes. Fora de Lisboa, o Bloco de Esquerda não é nada: o que, espero, Louçã vai descobrir definitivamente na sua ridícula candidadtura presidencial. Só mais um recado: como toda a gente lúcida sabe, a 'Energia Alternativa' não só não serve para nada, como é muito mais dispendiosa que a energia convencional.
Partido Popular
Já nem há mais a dizer. O PP desapareceu do mapa autárquico, reduzido à condição de um qualquer BE - para menor. O Partido Popular terá que ficar à espera de um novo - ou antigo - Paulo Portas, que lhe devolva um novo alento, ou resignar-se a desaparecer, o que seria pena, pois empobreceria ainda mais democracia portuguesa.