Wednesday, October 19, 2005
Um plágio descarado...
Desculpa lá, Gil Vicente, mas hoje, quando bebia o meu café matinal, a memória de um poste no Blogue de Esquerda fez-me recuar aos idos de 1977 e aos autos vicentinos. Lembrei-me deste, e fiz uma ligeira adaptação:
Entra Todo o Mundo, jornalista, e faz que procura alguma coisa que perdeu; e logo após, um homem, trancando cuidadosamente o seu Opel Corsa que anda a pagar a prestações. Este chama-se Ninguém e diz:
Ninguém: Que andas tu aí buscando?
Todo o Mundo: Mil coisas ando a buscar: não as consigo achar, mas faço de conta enquanto ninguém inventar a história que vou contar.
Ninguém: Como te chamas, senhor?
Todo o Mundo: O meu nome é Todo o Mundo e ocupo o tempo inteiro sempre a buscar dinheiro e artigos de fundo.
Ninguém: O meu nome Ninguém, e busco a ciência.
Belzebu: Esta é boa experiência: Pedrão, escreve isto bem.
Pedro: Que escreverei, companheiro?
Belzebu: Que ninguém busca ciência, e todo o mundo dinheiro.
Ninguém: E agora que buscas lá?
Todo o Mundo: Busco honra muito grande.
Ninguém: E eu liberdade, tomara que tenha a sorte de a encontrar já.
Belzebu: Outra adição nos acude: escreve logo aí, a fundo, que busca honra todo o mundo e ninguém a liberdade.
Ninguém: Procuras mais além disto?
Todo o Mundo: Procuro quem me louvasse o mais inconsequênte rabisco.
Ninguém: E eu quem me ensinasse cada coisa que não saibo.
Belzebu: Escreve mais.
Pedro: Que tens sabido?
Belzebu: Que todo o mundo quer ser sempre louvado, e ninguém ser ensinado.
Ninguém: Que mais queres, amigo meu?
Todo o Mundo: Quero a vida a quem ma dê.
Ninguém: A vida não sei que é, a morte conheço eu.
Belzebu: Escreve lá outra sorte.
Pedro: Que sorte?
Belzebu: Muito garrida: Todo o mundo quer a vida e ninguém conhece a morte.
Todo o Mundo: E ainda queria tudo, sem a ninguém atrapalhar.
Ninguém: E eu ponho-me a pagar quanto devo para isso.
Belzebu: Escreve com muito aviso.
Pedro: Que escreverei?
Belzebu: Escreve que todo o mundo quer tudo e ninguém paga o que deve.
Todo o Mundo: Gosto muito d'enganar, e mentir nasceu comigo.
Ninguém: Eu sempre verdade digo sem nunca me desviar.
Belzebu: Ora escreve lá, compadre, não sejas tu preguiçoso.
Pedro: Quê?
Belzebu: Que todo o mundo é mentiroso, e ninguém diz a verdade.
Ninguém: Que mais buscas?
Todo o Mundo: Engraxar.
Ninguém: Eu sou antes verdadeiro.
Belzebu: Escreve, anda lá, mano.
Pedro: Que me mandas escrevinhar?
Belzebu: Bate aí bem no teclado, atira esta p'rá lista: Todo o mundo é graxista, e ninguém é verdadeiro.