Tuesday, April 26, 2005
Uma visão diferente ...
Slavery also cannot explain the difference between American blacks and West Indian blacks living in the United States because the ancestors of both were enslaved. When race, racism, and slavery all fail the empirical test, what is left?
Culture is left.
Leiam tudo no Wall Street Journal.
Wednesday, April 20, 2005
Sobre o novo papa
Uma organização como esta não se pode submeter a modas como o politicamente correcto (até porque tem os seus próprios 'politicamente correctos') dos Anacletos Populistas, Magestades Repúblicanas e Laicas e quejandos, que são, por definição passageiras. Lembra-se a estes profetas do apocalipse que a igreja católica já passou por muito pior que o actual relativismo cultural, moral e civilizacional tão do agrado das luminárias da esquerda - portuguesa e não só, embora a primeira se destaque pelo seu provincianismo bacoco.
Relativamente aos comentários de Saramago, estamos claramente perante as suas habituais hipérboles. Com a mesma descontração, isenção e respeito pela verdade com que comparou o conflito israelo-palestiniano à gloriosa Grande Guerra Patriótica, e Israel à Alemanha nazi, assim compara a eleição de Ratzinger à entronização da Santa Inquisição. Enfim, Saramago, fica descansado que as fogueiras - pelo menos as da igreja católica, outras ainda continuam a queimar - já se apagaram faz muito tempo.
Nova investigação da polícia judiciária...
(22h27. A liga a B)
- Prof. Mariano Gago? 'Tás bom, pá? É o Zé Sócrates. Oh, pá, ajuda-me aqui. Comprei um computador, mas não consigo entrar na Internet! Estará fechada?
- Desculpa?....
- Aquilo fecha a que horas?
- Estás a gozar, ou quê? Ok, não estás... Hmmm...meteste a password?
- Sim! Quer dizer, copiei a do Freitas.
- E não entra?
- Não, pá!
- ...Deixa-me ver... qual é a password dele?
- É uma série de estrelas pequeninas, cinco, acho eu...
- Pooooooo....Bom, deixa lá agora isso, depois eu explico-te. E o resto, funciona?
- Também não consigo imprimir, pá! O computador diz: "Cannot find printer"! Não percebo, pá, já levantei a impressora, pu-la mesmo em frente ao monitor e o gajo sempre com a porra da mensagem, que não consegue encontrá-la, pá!
- (incompreeensível)....Vamos tentar isto: desliga e torna a ligar e dá novamente ordem de impressão.
(22h30.Fim da chamada)
(22h32. A liga novamente a B)
- Mariano, já posso dar a ordem de impressão?
- Olha lá, porque é que desligaste o telefone?
- Eh, pá! Foste tu que disseste, estás doido ou quê?
- (incompreeensível)...Dá lá a ordem de impressão, a ver se desta vez resulta.
- Dou a ordem por escrito? É um despacho normal?
- Oh, Zé...poooooooo....Eh, pá! esquece....Vamos fazer assim: clica no "Start" e depois...
- Mais devagar, mais devagar, pá! Não sou o Bill Gates...
- Pois não...(incompreensível) Se calhar o melhor ainda é eu passar por aí...Olha lá, e já tentaste enviar um mail?
- Eu bem queria, pá!, mas tens de me ensinar a fazer aquele circulozinho em volta do "a".
- O circulozinho...pois.... Bom...vamos voltar a tentar aquilo da impressora. Faz assim: começas por fechar todas as janelas.
- Ok, espera aí...
- ...Zé?...estás aí?...
- Pronto, já fechei as janelas. Queres que corra os cortinados também?
- Não, quero que te sentes, OK? Estás a ver aquela cruzinha em cima, no lado direito?
- Não tenho cá cruzes no Gabinete, pá!...
- Pooooooo....poooooooo....Zé, olha para a porra do monitor e vê se me consegues ao menos dizer isto: o que é que diz na parte de baixo do écran?
- Samsung.
- Eh, pá! Vai para ....
(22h37. B desliga)
- Mariano?... Mariano?...'Tá lá?...Desligou...
(22h37. A desliga. Fim de transcrição)
Espero que não seja necessário acrescentar que isto é tudo inventado!
Tuesday, April 19, 2005
Cuisine française...
Mudar as Nações Unidas?
Why not insist upon a democratic constitution as a prerequisite for a nation to qualify for U.N. membership? Why should France deserve a Security Council seat and not Japan and India—especially since the creation of the European Union should equate to a single European veto? And why promote lifelong U.N. apparatchiks like the stained Kurt Waldheim or Kofi Annan, when outsiders of real accomplishment and proven integrity like Vaclav Havel or Eli Wiesel would make honorable secretary-generals? [talvez porque o lugar já está tão denegrido que só oportunistas se interessam por ele?]
Then there is the location itself of the U.N. headquarters in Turtle Bay. Diplomats live the Manhattan high life a world apart from the crises that they are supposed to be addressing in Africa and Asia. Global media coverage from nearby studios—"live from New York"—tends to provide an electronic megaphone for fashionable anti-Americanism on the cheap. Never have so many delegates wished to live in a place for which they profess such a public dislike. [Tal como frei Tomás tão claramente expôs, falar é fácil, principalmente qualdo se está confortavelmente instalado]
The U.N should move to a Bolivia, Congo or West Bank where hunger, war and strife could be monitored and addressed firsthand.
Yes, the United States should still retain its membership and pay it dues, predicated on a whole series of radical structural reforms. But in the meantime, to restore their lost symbolic capital, let these well-heeled utopians practice their craft where the world's crises—rather than its easy rhetoric—reside.
Podem ler tudo no link acima. Via Barcepundit.Lista de contradições verbais...
Transcrevo só o Top 20:
20. Government Organization
19. Alone Together
18. Personal Computer
17. Silent Scream
16. Living Dead
15. Same Difference
14. Taped Live
13. Plastic Glasses
12. Tight Slacks
11. Peace Force
10. Pretty Ugly
9. Head Butt
8. Working Vacation
7. Tax Return
6. Virtual Reality
5. Dodge Ram
4. Work Party
3. Jumbo Shrimp
2. Healthy Tan
1. Microsoft Works
Divirtam-se!
Friday, April 15, 2005
Porque é que não existia Internet quando eu era estudante?
Protejam-se, meninas e senhoras
Combater o terrorismo, à moda soviética
During the mid-1980's, multiple US citizens were taken hostage in Lebanon by Hezbollah, a terrorist group which received support from Iran and Syria. During this period, three Soviet citizens were taken hostage by Hezbollah for a period of one week. The reason why the Soviet hostages were released promptly was due to a single KGB operation. Within several days of the kidnappings, the KGB seized a leader of the Hezbollah, castrated him, stuffed his testicles into his mouth, shot him in the head and left his corpse at a Hezbollah base with an ominous note that if the hostages were not released immediately more of the same would occur.71 Although the method by which the KGB carried out the assassination was horrendous, the operation brought about the rapid and safe release of all three Soviet hostages.
E ainda dizem que o sistema comunista não prestava!
Syria exposed está de volta...
It has been a while. Not that Karfan has stopped ranting, he never does. Nor that there are no more things to rant about here, you can bitch until you die and still miss stuff in this messed up area of the world. The reason was me. I am so much a cowered that I swore on my grandmother grave I would not post a single character from within Syria even if "King Lion the 2nd" himself guaranteed my safety. A sheep never trust a Lion, never.
Percebe-se.
Thursday, April 14, 2005
É tempo de terminar com o unilateralismo ...
Vale a pena ler tudo. Via Barcepundit.
Pedrada certeira no pântano europeu
"The supply-side revolution that changed America, Britain and Ireland for the better barely breached the shores of the Continent".
Mas porquê?A grande agonia começa longo na constatação de que os europeus "have waited too long, however, to make the necessary changes without going through considerable pain. They cannot get out of the dilemma by raising taxes, because their current tax rates are already above the revenue maximizing point. (...) The Europeans governments are then left with no alternative but to begin reducing real benefits".
O estado da «educação»
Acho que isto não passa de uma pouca vergonha!!! prinsipalmente as regras um aluno com 4 negas e com possibilidade de passar ainda não pode fazer os exames acho que portugal persisa mudar muita coisa a começar pelos menistros.
acho que este pais e mesmo uma bela mer... porke e axim nos, estudamos 9 anos para poider ter anossa vidinha ou para podermos começar e dps lixamnos com isto pensam k nos somos o k, e depois ainda dizem k lkerem diminuir a taxa de abandonamento escolar axim kem e k consegue estudar chega-se ao 9ºano kando se começa a pensar k finalmente tenho o k e preciso pa começar a trabalhar ter a minha carta de condução ter o meu carrinho e depois fazem isto o que eles querem é que a gente fique na lama, e isto assim não da e gostava muito k houvesse uma grande revolta em frente do ministerio da educação para reclamarmos pelso nossos direitos.
Acho mal que se fassam esames no 9º ano, nos anos anteriores nao se fizeram e nao é por isso que os alunos nao tiram bons cursos e estao bem na vida, é uma questao de estudar.. E ainda por cima comessamos as aulas muito mais tarde, ainda quero ver se vamos conseguir dar toda a materia antes do dia 9 de junho..
eu axo isto um absordo completo, nos n temos culpa k a ministra n bata bem da cabexa.... o pexoal n ker ser cobaia por IXO VEJA LÁ AS MERDAS K FAZ.....SE CONTINUA AXIM O PEXOAL FAZ GREVE A PORCARIA DOS EXAMES E DEPOIS VAMOS VER KEM MANDA.....bjs po pexoal e s depois for preciso fazer greve contem cmg bjs fofos pa tds e um pouco de conciênia pa Ministra
Mais palavras para quê? Bastam estas:
Vosezes são uns palhaços porque querem lichar agente e venham vocezes fazer os exames porque senão não os fasso e vocezes venham-nos fazer seus palhaços
Tuesday, April 12, 2005
Aquecimento global ou «aquecimento global»?
Last week the post-Kyoto future was debated in Australia during three conferences. The British Government and the US-based Pew Centre supported conferences urging extension of the Kyoto model to regulate greenhouse gas emissions. Energy companies backed the third conference which contrasted the strategy of development of low emission technologies favored by the Bush Administration and the Howard Government in Australia with the Kyoto-style model.
Science featured prominently in the discussions. For the first time in Australia, Australia's leading advocates of the Kyoto model were required to publicly defend the "official" UN science supporting Kyoto to their peers. They were not successful. Doubts about the UN science are increasing in Australia.
Claro que os «verdadeiros crentes» na fé ambientalista nunca serão afectados por estas pequenas falhas. A questão é, no entanto, que a grande maioria da população não é constituida por «verdadeiros crentes», apesar dos esforços dessa grande igreja que é o GreenPeace, bem como das diversas paróquias locais (nós temos a Quercus) e do apoio desinteressado de inúmeros ambientalistas «não praticantes» espalhados nas elites culturais e sociais do mundo ocidental.
A documentação das conferências, bem como documentação adicional, encontra-se disponível aqui (em PDF).
Monday, April 11, 2005
... talvez seja tempo de voltar ao nuclear ...
I there was one thing that used to be crystal clear to any environmentalist, it was that nuclear energy was the deadliest threat this planet faced. That's why Dick Gregory pledged at a huge anti-nuke demonstration in 1979 that he would eat no solid food until all nuclear plants in the U.S. were shut down.
Mr. Gregory may be getting hungry.
But it's time for the rest of us to drop that hostility to nuclear power. It's increasingly clear that the biggest environmental threat we face is actually global warming, and that leads to a corollary: nuclear energy is green.
De acordo, sem qualquer margem para dúvida...
A limitação de cargos politicos
Na prática, estende-se de algum modo a actual limitação de mandatos presidenciais a 2 (ou 10 anos, salvo erro) a outros cargos. Ficam algumas dúvidas: esta limitação refere-se a mandatos consecutivos, ou ao tempo total de mandato? Posto de outra forma, estamos a salvo de mais de 12 anos de Sócrates, ou o seu fastasma poderá voltar a assombrar-nos após um (curto ou longo) descanso? Já sabemos que não nos encontramos a salvo de um eventual retorno de sua real magestade repúblicana, laica e socialista Mário Soares, pois que o seu período de nojo foi já cumprido.
Por outro lado, ficam a pairar dúvidas sobre outros tipos de mandatos mais ou menos executivos: comissões parlamentares, ministros, directores gerais e secretários de estado, para já não mencionar a administração de Empresas Públicas, Institutos Públicos e toda a restante planópia de organizações criadas para, para bem ou para o mal, curto-circuitar a legislação restritiva das actividades da Adminstração Pública.
Fica também a sensação que esta lei tem objectos muito específicos: Alberto João Jardim - e relativamente este, Vital Moreira escusa ter dúvidas, como bom político, obviamente não tem a mais pequena pinta de vergonha nem na cara nem em qualquer outro local - bem como alguns presidentes de Câmaras - estes mais bem distribuídos entre PSD, PP, PS e PCP (ops, queria dizer CDU), já que só o BE ainda não teve tempo para que os seus dinossauros cresçam - e, aqui sim, uma grande quantidade de presidentes de Juntas de Freguesia (só espero que depois consiguam arranjar candidatos). A medida será «vendida», essencialmente ao eleitorado urbano, como anti-caciquista, sem qualquer margem para dúvida, e o pessoal (urbano) até a irá provavelmente «comprar» prazenteiramente. Só que esta lei não vai adiantar quase nada no combate ao caciquismo. Vai apenas promover uma menor visibilidade para o dito pessoal urbano. Isto porque a população rural vai continuar a saber muito bem quem é que manda de facto na terra: é quem controla uma maior quantidade de empregos.
E só para terminar: então e os outros dinossauros? Os das centrais sindicais? O governador do Banco de Portugal? Os dos sindicatos? O problema que o governo pretende resolver não estará antes noutro sítio? Sei lá, por exemplo na fastástica capacidade de acomodação dos portugueses?
Comer o bolo e guardá-lo
No meio da sua apresentação, Giles Kepel argumenta que por um lado as forças armadas norte-americanas são «todo-poderosas», por outro lado, que a sua utilização no terreno é um «falhanço miserável». Enfim, come o bolo e guarda-o. Enfim, não possuo a agilidade verbal de Wretchard. Leiam antes na fonte.
Aproveitem também para ler sobre a polémica das fotos da Associated Press mostrando a execução o assassinio (afinal, não trabalho para a AP, posso chamar as coisas pelo nome) de dois trabalhadores da comissão eleitoral premiadas com o prémio Pulitzer: existem argumentos fortes (também no Powerline) para que estas tenham sido obtidas por um fotógrafo «embebido» com a resistência os terroristas.
Friday, April 08, 2005
Umas actualizações no blogroll
A Reforma das Nações Unidas
E podemos até começar pelo título. De facto, Kofi Annan, ou quem escreveu o relatório em seu nome, arranca com uma piscadela diplomática aos Estados Unidos, pela referência que faz às três liberdades mencionadas por F.D. Roosevelt a propósito da fundação da Organização das Nações Unidas.
Começa num tom optimista, ao indicar vontade, e crença na possibilidade de, nada mais, nada menos de diminuir a pobreza global para metade, parar o alastramento das principais doenças conhecidas, reduzir a prevalência de conflitos violentos e terrorismo, bem como aumentar o respeito pela dignidade humana em todos os países. Nobres intenções. E como as implementar? Duh! Obviamente forjando um conjunto renovado de instituições internacionais.
Com coragem, decisão, peito cabeludo e uma cauda frondosa – e em conjunto, não convém esquecer – as pessoas poderão estar globalmente mais seguras, mais prósperas e mais capazes de gozar os seus direitos humanos fundamentais.
Podemos então ficar descansados. Com o novo milénio abrem-se as portas do Paraíso Terrestre para a espécie humana. Existe consenso internacional para tal, pelo menos em muitas das partes. Infelizmente, não em todas. O mesmo consenso existe relativamente ao desejo de reformar (mais à frente isto traduz-se por equipar e fornecer recursos) a ONU.
Sem dúvida que os objectivos propostos por Annan são globalmente consensuais. Bastaria, de facto, que a ONU conseguisse definir alguns termos utilizados tão à vontade neste relatório, como «terrorismo» ou «direitos humanos fundamentais». Mas, como é claro, não consegue. Mas vamos até dar de barato que os objectivos são de facto consensuais. Tão importante como definir objectivos, é definir estratégias de como os alcançar – numa nota à parte, algo que o primero-ministro Sócrates vai descobrir rapidamente – já que é mais na escolha e adequação de meios do que na definição de metas estratégicas que as politicas são avaliadas.
Assim temos, que basicamente o que a ONU pretende avançar com o Consenso de Monterey – Kofi Annan não entende, ou faz que não entende que as circunstâncias sob as quais foi alcançado esse consenso já não existem – e ao mesmo tempo lançar as bases para um governo mundial regido pela ONU. Falta aqui, evidentemente, a percepção de quais as motivações que existem para que o mundo «desenvolvido» se submeta alegre e confiadamente a um mundo dito «em desenvolvimento» - sub-desenvolvido já não é politicamente correcto – governado, na sua esmagadora maioria, por ditaduras sem qualquer tipo de legitimidade democrática. Sem dúvida que o relatório coloca por diversas vezes o dedo na ferida, ao indicar – nomeadamente no que respeita a África – como uma das principais causas para o sub-desenvolvimento (como não trabalho para a ONU não tenho que ser politicamente correcto) a corrupção generalizada. Por ironia do destino, Kofi Annan teve que provar, na sua própria família, um exemplo desta corrupção quase em simultâneo com a publicação deste relatório.
Por forma a alcançar estes objectivos ambiciosos, a ONU propõe que os países desenvolvidos dediquem ao auxílio ao desenvolvimento uma percentagem muito superior à actual apontando para 2015 uma meta de 0.7% do PIB. Dito assim, nem parece muito: até já existem hoje alguns países que dedicam esta percentagem ao auxílio ao desenvolvimento. Este auxílio é proposto como contrapartida para a luta contra a corrupção, o avanço da escolaridade, uma maior igualdade entre sexos, perdão de dívida externa e por aí fora. São objectivos dispendiosos, mas sem dúvida merecedores da aplicação de recursos. O que não se vê são os mecanismos que permitam a implementação destas políticas. Infelizmente, o que o relatório aponta é apenas o despejar de mais dinheiro no poço sem fundo que é a corrupção.
O relatório não deixa de lado os aspectos da segurança colectiva. Entre críticas veladas às principais potências, nomeadamente à sua – natural – relutância em assignar tropas para operações de «peace keeping»/«peace enforcement» no quadro das Nações Unidas, já que estas tantas vezes se destinam apenas a servirem como mais reféns – basta lembrar o massacre de Sbrenika e o papel que os capacetes azuis holandeses tiveram no mesmo. Como solução, o relatório aponta um reforço também do papel militar da ONU. No entanto, entra aqui em contradições importantes com conceitos como «soberania», «estado» e quejandos. Nomeadamente ao pretender que a ONU disponha de um conjunto permanente de forças a si assignadas, teríamos assim o segundo pilar para o governo mundial: Forças Armadas permanentes. A intenção é boa, no entanto, como diz correctamente a sabedoria popular, de boas intenções está o inferno cheio. Atribuir à ONU o comando sobre forças militares – num mundo «ONUniano» ideal, o comando sobre todas as forças militares – esvazia mais uma competência do estado-nação. Claro que se pode argumentar que o estado-nação é um conceito eurocêntrico e ultrapassado. Se é uma semi verdade que o este conceito é puramente ocidental – temos as excepções não ocidentais de, pelo menos, China e Japão – não é menos verdade que as regras de funcionamento de uma organização do tipo da ONU apenas não determinam a sua parilisia completa quando os valores que determinam a essência de «bom governo» são compartilhados pelos seus estados membros. Este consenso não existe, nem parece possível que alguma vez possa vir a existir. Seguindo esta via, o melhor que poderia ser esperado, seria uma nivelação por baixo. De facto a um nível tão baixo que o conjunto de normas expressas na «Carta dos Direitos Humanos» teria que ser drasticamente revisto. Voltando ainda à questão das forças militares, é dificilmente credível pela parte dos estados soberanos a cedência do seu direito de decisão sobre questões tão importantes como a guerra e a paz.
No entanto, como antes, Kofi Annan diz que com mais recursos lá se fazia o necessário. Bastava, claro, que os países desenvolvidos colocassem as suas forças armadas ao serviço da ONU. Podemos, é claro, arranjar uma cadeira confortável para ficarmos à espera que isto um dia aconteça. Tal como qualquer um pode arranjar uma cadeira confortável e ficar à espera que eu me suicide.
Mas as partes mais interessantes deste documento ficam reservadas para fim: primeiro, a reforma do conselho de segurança, depois os compromissos a assumir pelos chefes de estado.
As propostas para a reforma do conselho de segurança, afinal de contas o organismo mais poderoso da ONU, são uma desilusão. Onde foi parar a firmeza, decisão, peito cabeludo e cauda frondosa do secretariado da ONU? Quem sabe? De facto, este documento limita-se a apontar duas configurações alternativas, qualquer delas bastante relutante e conservadora. Em qualquer das propostas, não existem novos membros com direito de veto. OK, é uma tentativa de não contrariar excessivamente os actuais membros permanentes. São assim apresentadas duas configurações, simpaticamente designadas como modelo A e B.
No modelo A, teriamos uma adição de 6 membros permanentes, no entanto sem direito a veto, distribuidos da forma seguinte: 2 para a África, 2 para a Ásia/Pacífico, 1 para a Europa e 1 para as Américas. Para membros não permanentes, a distribuição seria a seguinte: 4 para África, 3 para Ásia/Pacífico, 2 para Europa e 4 para as Américas. Isto daria uma representação proporcional de 6 membros por cada grupo geográfico, mantendo-se os actuais membros permanentes com direito a veto: 1 para Ásia/Pacífico (República Popular da China), 3 para a Europa (Reino Unido, França e Rússia), e 1 para as Américas (Estados Unidos). Os membros não permanentes, tal como hoje, teriam mandatos de 2 anos, não renováveis. Este é o modelo que implica um menor conjunto de alterações. Claro que tem o problema suplementar de decidir a que países seriam atribuídos os novos assentos permanentes. No conjunto África, temos pelo menos três ou quatro contendores sérios: República da África do Sul, Nigéria, Egipto e eventualmente Argélia ou Marrocos. Por forma a assegurar uma representação islâmica no Conselho de Segurança, as escolhas recairiam provavelmente sobre um dos países da África Negra, e outro do Magreb. Digamos África do Sul e Egipto. Relativamente à Europa só existem dois candidatos sérios: Alemanha e Itália. Podem ainda mostrar-se interessados a Espanha ou a Polónia Digamos a Alemanha. Na região Ásia/Pacíico é que este modelo mostra as suas falhas. Existem apenas 2 lugares propostos para quatro candidatos sérios e com a potencialidade e músculo suficientes: India, Japão, Indonésia e Paquistão. Numa segunda linha, poderiamos acrescentar ainda o Irão, o Iraque, o Vietname e a Austrália. Para o segundo membro permanente das Américas penso que o Brasil seria consensual.
Quanto ao modelo B, teriamos uma nova categoria de assentos não permanentes, mas renováveis, eleitos por quatro anos com 8 novos membros, mantendo-se os actuais 5 membros com direito a veto, e um novo membro não permanente com um mandato de dois anos, não renovável, para o mesmo total de seis membros por área regional. Aqui vê-se claramente a intenção de uma proposta mais consensual para a distribuição dos lugares mais desejados. No entanto, este tipo de distribuição, apesar de parecer mais democrático, não resolve os mesmos problemas fundamentais: como distribuir três lugares «especiais» entre quatro, cinco ou mais candidatos fortes, pelo menos no que diz respeito à região Ásia/Pacífico. De facto, o fulcro de qualquer tentativa de reequilibrio na composição do Conselho de Segurança acaba sempre por incidir na região Ásia/Pacífico. Não em África, onde Kofi Annan coloca provincianamente as suas esperanças, mas na região mundial que apresenta uma maior dinâmica – e também um maior desafio, por muito que se tente mascarar. Os maiores desafios mundias hoje, por muito que custe ouvir, travam-se à volta de pólos asiáticos: no Extremo Oriente, China, Japão e até pesos relativamente leves como as Coreias, Malásia ou Vietname, no Médio Oriente com o Irão, Iraque, Israel e a Arábia Saudita. Na Ásia Central onde a confrontação e ‘appeasement’ entre as potências nucleares que são a India e o Paquistão escondem uma teia de médias potências regionais, resultantes da decomposição da esfera de influência eslava, que é lentamente mas irreversivelmente tecida.
Nas considerações finais, o relatório propõe a dissolução do ‘Trusteeship Council’, tornado desnecessário com a finalização da descolonização, bem como a eliminação das cláusulas que fazem referência a ‘inimigos’ nos artigos 53 e 107 da Carta das Nações Unidas, bem como a eliminação do Comité Militar referido previsto no artigo 47 e mencionado nos artigos 26, 45 e 46. Temos no meio os habituais incitamentos à revitalização do papel da Assembleia Geral, que são irrelevantes, já que é inaceitável dar qualquer tipo de poder a este orgão, dada a sua irresponsabilidade intrinseca. Podemos ainda adicionar uma demasiado atrasada reforma da Comissão dos Direitos Humanos – onde hoje pontificam alguns dos estados com piores registos nesta matéria – e os inevitáveis apelos a a mais fundos/recursos.
O relatório termina com as mesmas referências a F.D.Roosevelt presentes no início: fica-se na dúvida se para reforçar os pontos iniciais, ou se é tão só destinado aos que apenas lêm as páginas iniciais e o fim da história.
O apêndice refere as decisões que os chefes de estado deverão subscrever, e quais os compromissos a assumir. Kofi Annan não tem dúvidas: o milénio está ali mesmo ao virar da esquina, mesmo ao alcance da mão, só é preciso é dar mais poder à burocracia das Nações Unidas!
Mais poder à burocracia? Onde é que já ouvi isto?
Project Gutenberg
Wednesday, April 06, 2005
Star Wars e Liberalismo
Curioso...
Zapatero é um maroto...
Um contributo para a análise do impacto dos blogues
Internet self-publishing (blogs) have introduced a genuine element of volatility into the political system. Anyone who watched the Terri Schiavo meme unfold would have noticed how it could take unexpected turns, almost like a live and squirming thing. Indeed, some have argued that the Schiavo story damaged President Bush and the Republican Party. However that may be, it should be clear that Internet memes do not behave like ad campaigns. They are far more uncontrollable and dangerous than the public relations objects of yesteryear. There is a certain irony in the fact that the Gomery inquiry is dealing with a corrupt public relations ad campaign (Adscam) costing hundreds of millions of dollars that is now being done to death by a blog costing several hundred dollars. That fact alone and what is implied by it should give pause.
Vão lá e leiam tudo.
Tuesday, April 05, 2005
O Estado Ladrão
Via Blasfémias.
Uma visão da estratégia da al-Qaeda
Uma visão algo contraditória com a normalmente apresentada epla maioria dos comentadores, mas coerente e credível.
A morte de João Paulo II
Vão lá e leiam tudo.
Monday, April 04, 2005
Vamos lá ajudar o Rui Tavares
America-Is
Iraq is not occupied, it is being updated.
No one ever wanted to escape from America.
Aproveitem. Via Roger Simon, que já agora, tem montes de informação sobre o escandalo do programa Oil for Food.
A Biblioteca de Babel
Aproveito para retribuir o cumprimento.
1ª de Abril no Reino Unido
Só uma amostra:
The Guardian reporters do a brilliant job at what they do best - i.e., making things up - with unmissable flags like "Ms. Jowell's office refused to confirm whether Britain would be pressing for drag-hunting to become an Olympic event in time for the 2012 games" and a reference to "the polling firm Yo, Guv!". Outstanding.
Vão lá e leiam tudo.